quarta-feira, 21 de março de 2018

VI Ciclo Poesia no Museu

 
Museu Nacional da Música, 21 de Março, 19h00

Alva Martínez-Teixeiro, "Carlos Drummond de Andrade"
 
 
 

segunda-feira, 12 de março de 2018

António Nobre em análise


Após a análise dos poemas “Lusitânia no Bairro Latino”, “Poveirinhos”, “Aqui, sobre estas águas cor de azeite”, “Ó virgens que passais e “Balado do caixãosão visíveis linhas temáticas e linguagem própria de António Nobre. 

A sua poesia caracteriza-se por uma atenção ao real e ao mundo dos afetos, reforçada pelo sentimento de nostalgia. Mas também se percebe nos seus poemas alguma ironia amarga face à decadência de Portugal e à sua própria doença. Assim se compreende um certo sentimentalismo da sua poesia, ligada a temas como a saudade, o exílio, a pátria e a infância. Insere-se numa poesia portuguesa pré-modernista, ao colocar em questão uma linguagem poética fortemente convencional e normativa.
 
Tanto no poema A (“Lusitânia no Bairro Latino”), quanto no poema C (“Aqui, sobre estas águas cor de azeite”), destaca-se o narcisismo excessivo, um tom melancólico e pessimista por parte do sujeito poético. É visível uma oposição do passado, uma infância feliz, e presente, vida de dor e desencanto. Simultaneamente deparamo-nos com um sentimento de saudade da pátria e do paraíso perdido. É percetível uma conjugação da biografia pessoal com a história coletiva. Por fim, está bem patente uma evocação pela memória.

No poema B (“Poveirinhos”) e no poema E (“Balada do caixão”), é revelado um interesse pelo provinciano, pitoresco e popular. Na composição E é manifestada uma obsessão pela morte.
     
No poema D (“Ó virgens que passais”) note-se na figura feminina enquanto frágil, pura e espiritualizada, caracterizando-se por traços vagos, espectrais e marianos.
 
O estilo e linguagem deste poeta português apresentam um tom coloquial, é evidente uma conjugação do amor e da ternura com as notas sérias e as questões religiosas. Há ainda um «filtro» popular e infantil na apresentação do real, a linguagem é simples e acessível, maioritariamente prosaísta e é percetível a variedade de usos e combinações de estrofes e metros.

Em “Lusitânia no Bairro Latino”, encontramos a presença da apostrofe (“Ó padeirinhas a amassar o pão”, v. 66), a metáfora (“E a serra a toalha, o covilhete e a sala”, v. 24) e a aliteração (“O ceifeira que cegas cantando”, v. 59).

Em “Poveirinhos”, é observável o uso da apóstrofe (“Ó meu pai, não ser eu dos poveirinhos!”, v. 9) e de um eufemismo (“Calafetados pelo breu das Dores”, v. 7).

Em “Aqui, sobre estas águas cor de azeite”, é recorrente o uso da anáfora (“Sem um beijo, sem uma Ave-Maria, /Sem uma flor, sem o menor enfeite”, vv. 7 e 8) e a adjetivação (“Lar adorado, em fumos, a distância”, v. 10).

Em “Ó virgens que passais” é usada a enumeração (“O vinho, Graça, a formosura, o luar!”, v. 8) e a apóstrofe (“Ó suaves e frescas raparigas”, v. 13).         

Em “Balada do caixão” é claro o uso de diálogos (“- Olá, bom homem! Quero um fato”, v. 11) e referências entre parênteses que evidenciam, para além de comentários frequentes, uma linguagem oralizante (“(pôs-se o bom homem a aplainá-lo)”, v. 20).


(Por motivos de extensão dos poemas analisados, optámos por não os transcrever, já que estes se encontram facilmente na Internet.)

 Escrito por: Domingos Lopes Gallego; Sara Nunes; Catarina Silva e Sofia P. Faustino

terça-feira, 6 de março de 2018

Poesia de António Nobre

António Nobre (1867-1900) foi um homem singular; combinava elegância com extravagância, o seu aspeto era único e os que o viam chamavam-lhe “a criatura nova”. Procurou trabalhar nos seus poemas um certo pitoresco português ligado à vida do povo, à sua simplicidade e tragédia de vida, o que revela uma atitude romântica e saudosista que marcará a literatura portuguesa.

A obra é a sua obra-prima. Destaca-se por ser um livro de memórias, premonições e viagens onde é observável uma obsessão pela morte.

A sua poesia caracteriza-se por uma atenção ao real e ao mundo dos afetos, reforçada pelo sentimento de nostalgia. Mas também se percebe nos seus poemas alguma ironia amarga face à decadência de Portugal e à sua própria doença, a tuberculose que o afetou e lhe provocou a morte. Assim se compreende um certo sentimentalismo da sua poesia, ligada a temas como a saudade, o exílio, a pátria e a infância. Insere-se numa poesia portuguesa pré-modernista, ao colocar em questão uma linguagem poética fortemente convencional e normativa.

O estilo e linguagem deste poeta português apresentam um tom coloquial, é visível uma conjugação do amor e da ternura com as notas sérias e as questões religiosas. Há ainda um «filtro» popular e infantil na apresentação do real, a linguagem é simples e acessível, maioritariamente prosaísta e é percetível a variedade de usos e combinações de estrofes e metros.

Segundo Gastão Cruz, "enquanto Cesário revoluciona fundamentalmente o nível linguístico, através da renovação vocabular, a revolução de Nobre, não deixando de situar-se igualmente num plano semântico, e por vezes com uma liberdade de associações e uma violência que encontram o que encontramos em Cesário [...], abala, pela primeira vez, os alicerces, e toda a construção, do edifício romântico-parnasiano." (CF. CRUZ, Gastão - A Poesia Portuguesa Hoje , 2.ª ed. aumentada, Lisboa, Relógio d'Água, 1999, pp. 20-21).


Escrito por: Sofia P: Faustino e Domingos Lopes Gallego




sexta-feira, 2 de março de 2018

Almeida Garrett- vida e obra

        João Batista da Silva Leitão (mais tarde de Almeida Garrett) nasceu no Porto, em 1799. Aí passou a infância, num caloroso ambiente burguês que lhe deixaria boas recordações. Aos 10 anos parte com a família para os Açores, onde inicia a sua formação literária sob a tutela do tio Frei Alexandre da Sagrada Família, bispo de Angra. 

        Ancorada no tempo histórico do Liberalismo, a obra literária garrettiana não pode conceber-se alheada do contexto político e cultural que a motivou. Da mesma circunstância decorre a orientação ‘iluminista’ e eticamente empenhada que desde o início do seu trajeto literário revestiu, por entender que «o poeta é também cidadão». 

        A poesia lírica e narrativa dominaria a primeira fase da sua carreira, ainda oscilante entre a lição do neoclassicismo convencional e a nova corrente romântica, de inspiração nacionalista. 

        A fase da maturidade (década de 40, sobretudo) seria particularmente fecunda, do ponto de vista literário. Surgem nesta altura as obras maiores do autor, abrangendo, com notável versatilidade, a lírica, a narrativa e o drama. 

        O autor também foi importante para o teatro português, participando de forma política e como dramaturgo. A construção do Teatro Nacional de D. Maria II, na época Teatro Normal, assim como a fundação do Conservatório de Arte Dramática, foram sugestões de Garrett. Garrett atribuía ao Teatro uma alta função civilizadora, e empenhou-se intensamente na sua renovação. Queria uma produção nacional de qualidade, suscetível de elevar o gosto e a cultura do público. A poesia lírica conhece também uma renovada inspiração. Das duas coletâneas poéticas desta fase – Flores sem Fruto (1845) e Folhas Caídas (1853), a última é sem dúvida a mais interessante, e onde mais livremente se expande o individualismo romântico. Aos temas mais convencionais – a divisão interior, a dialética mundo/espírito, o apelo de um idealismo transcendente (O Amor, A Perfeição, Deus, como absolutos da inquieta alma poética) –, acrescenta-se uma nova e ousada expressão do amor, epitomizada no famoso verso «Não te amo, quero-te!». 

        Almeida Garrett foi, assim, o escritor que deu início ao romantismo em Portugal. Um dos autores mais importantes da literatura do país, teve intensa atuação também na vida política. Com ideais liberais, lutou contra o absolutismo e foi exilado mais de uma vez. Como muitos escritores, utilizou o jornalismo para transmitir as suas ideias. 

       Quanto ao estilo, a sua linguagem é simples e expressiva, rejeitando a retórica clássica. Assistimos a uma parateatralidade, visível num tom coloquial coralizante e no recurso abundante a vocativos e interjeições. Note-se ainda uma marcada influência da lírica medieval e da poesia tradicional. Há uma liberdade formal, através da irregularidade estrófica, de acordo com o ritmo emotivo, e uma variedade de metros, inclusivamente no mesmo poema.





Trabalho realizado por: Catarina Silva e Sara Nunes