Após a análise dos poemas “Lusitânia
no Bairro Latino”, “Poveirinhos”, “Aqui, sobre estas águas cor de azeite”, “Ó
virgens que passais” e “Balado do
caixão” são visíveis linhas temáticas
e linguagem própria de António Nobre.
A
sua poesia caracteriza-se por uma atenção ao real e ao mundo dos afetos,
reforçada pelo sentimento de nostalgia. Mas também se percebe nos seus poemas
alguma ironia amarga face à decadência de Portugal e à sua própria doença.
Assim se compreende um certo sentimentalismo da sua poesia, ligada a temas como
a saudade, o exílio, a pátria e a infância. Insere-se numa poesia portuguesa
pré-modernista, ao colocar em questão uma linguagem poética fortemente
convencional e normativa.
Tanto no poema A (“Lusitânia no Bairro Latino”), quanto no poema C (“Aqui, sobre estas águas cor de azeite”), destaca-se o narcisismo excessivo, um tom melancólico e pessimista por parte do sujeito poético. É visível uma oposição do passado, uma infância feliz, e presente, vida de dor e desencanto. Simultaneamente deparamo-nos com um sentimento de saudade da pátria e do paraíso perdido. É percetível uma conjugação da biografia pessoal com a história coletiva. Por fim, está bem patente uma evocação pela memória.
No poema B (“Poveirinhos”) e no poema E (“Balada do caixão”), é revelado um interesse pelo provinciano, pitoresco e popular. Na composição E é manifestada uma obsessão pela morte.
No poema D (“Ó virgens que passais”) note-se na figura feminina enquanto frágil, pura e espiritualizada, caracterizando-se por traços vagos, espectrais e marianos.
O estilo e linguagem deste poeta português apresentam um tom coloquial, é evidente uma conjugação do amor e da ternura com as notas sérias e as questões religiosas. Há ainda um «filtro» popular e infantil na apresentação do real, a linguagem é simples e acessível, maioritariamente prosaísta e é percetível a variedade de usos e combinações de estrofes e metros.
Em “Lusitânia no Bairro Latino”, encontramos a presença da apostrofe (“Ó padeirinhas a amassar o pão”, v. 66), a metáfora (“E a serra a toalha, o covilhete e a sala”, v. 24) e a aliteração (“O ceifeira que cegas cantando”, v. 59).
Em “Poveirinhos”, é observável o uso da apóstrofe (“Ó meu pai, não ser eu dos poveirinhos!”, v. 9) e de um eufemismo (“Calafetados pelo breu das Dores”, v. 7).
Em “Aqui, sobre estas águas cor de azeite”, é recorrente o uso da anáfora (“Sem um beijo, sem uma Ave-Maria, /Sem uma flor, sem o menor enfeite”, vv. 7 e 8) e a adjetivação (“Lar adorado, em fumos, a distância”, v. 10).
Em “Ó virgens que passais” é usada a enumeração (“O vinho, Graça, a formosura, o luar!”, v. 8) e a apóstrofe (“Ó suaves e frescas raparigas”, v. 13).
Em “Balada do caixão” é claro o uso de diálogos (“- Olá, bom homem! Quero um fato”, v. 11) e referências entre parênteses que evidenciam, para além de comentários frequentes, uma linguagem oralizante (“(pôs-se o bom homem a aplainá-lo)”, v. 20).
(Por motivos de extensão dos poemas analisados, optámos por não os transcrever, já que estes se encontram facilmente na Internet.)
Escrito por: Domingos Lopes Gallego; Sara Nunes; Catarina Silva e Sofia P. Faustino