António Nobre (1867-1900) foi um homem singular; combinava elegância com extravagância, o seu aspeto era único e os que o viam chamavam-lhe “a criatura nova”. Procurou trabalhar nos seus poemas um certo pitoresco português ligado à vida do povo, à sua simplicidade e tragédia de vida, o que revela uma atitude romântica e saudosista que marcará a literatura portuguesa.
A obra Só é a sua obra-prima. Destaca-se por ser um livro de memórias, premonições e viagens onde é observável uma obsessão pela morte.
A sua poesia caracteriza-se por uma atenção ao real e ao mundo dos afetos, reforçada pelo sentimento de nostalgia. Mas também se percebe nos seus poemas alguma ironia amarga face à decadência de Portugal e à sua própria doença, a tuberculose que o afetou e lhe provocou a morte. Assim se compreende um certo sentimentalismo da sua poesia, ligada a temas como a saudade, o exílio, a pátria e a infância. Insere-se numa poesia portuguesa pré-modernista, ao colocar em questão uma linguagem poética fortemente convencional e normativa.
O estilo e linguagem deste poeta português apresentam um tom coloquial, é visível uma conjugação do amor e da ternura com as notas sérias e as questões religiosas. Há ainda um «filtro» popular e infantil na apresentação do real, a linguagem é simples e acessível, maioritariamente prosaísta e é percetível a variedade de usos e combinações de estrofes e metros.
Segundo Gastão Cruz, "enquanto Cesário revoluciona fundamentalmente o nível linguístico, através da renovação vocabular, a revolução de Nobre, não deixando de situar-se igualmente num plano semântico, e por vezes com uma liberdade de associações e uma violência que encontram o que encontramos em Cesário [...], abala, pela primeira vez, os alicerces, e toda a construção, do edifício romântico-parnasiano." (CF. CRUZ, Gastão - A Poesia Portuguesa Hoje , 2.ª ed. aumentada, Lisboa, Relógio d'Água, 1999, pp. 20-21).
Escrito por: Sofia P: Faustino e Domingos Lopes Gallego
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