segunda-feira, 12 de março de 2018

António Nobre em análise


Após a análise dos poemas “Lusitânia no Bairro Latino”, “Poveirinhos”, “Aqui, sobre estas águas cor de azeite”, “Ó virgens que passais e “Balado do caixãosão visíveis linhas temáticas e linguagem própria de António Nobre. 

A sua poesia caracteriza-se por uma atenção ao real e ao mundo dos afetos, reforçada pelo sentimento de nostalgia. Mas também se percebe nos seus poemas alguma ironia amarga face à decadência de Portugal e à sua própria doença. Assim se compreende um certo sentimentalismo da sua poesia, ligada a temas como a saudade, o exílio, a pátria e a infância. Insere-se numa poesia portuguesa pré-modernista, ao colocar em questão uma linguagem poética fortemente convencional e normativa.
 
Tanto no poema A (“Lusitânia no Bairro Latino”), quanto no poema C (“Aqui, sobre estas águas cor de azeite”), destaca-se o narcisismo excessivo, um tom melancólico e pessimista por parte do sujeito poético. É visível uma oposição do passado, uma infância feliz, e presente, vida de dor e desencanto. Simultaneamente deparamo-nos com um sentimento de saudade da pátria e do paraíso perdido. É percetível uma conjugação da biografia pessoal com a história coletiva. Por fim, está bem patente uma evocação pela memória.

No poema B (“Poveirinhos”) e no poema E (“Balada do caixão”), é revelado um interesse pelo provinciano, pitoresco e popular. Na composição E é manifestada uma obsessão pela morte.
     
No poema D (“Ó virgens que passais”) note-se na figura feminina enquanto frágil, pura e espiritualizada, caracterizando-se por traços vagos, espectrais e marianos.
 
O estilo e linguagem deste poeta português apresentam um tom coloquial, é evidente uma conjugação do amor e da ternura com as notas sérias e as questões religiosas. Há ainda um «filtro» popular e infantil na apresentação do real, a linguagem é simples e acessível, maioritariamente prosaísta e é percetível a variedade de usos e combinações de estrofes e metros.

Em “Lusitânia no Bairro Latino”, encontramos a presença da apostrofe (“Ó padeirinhas a amassar o pão”, v. 66), a metáfora (“E a serra a toalha, o covilhete e a sala”, v. 24) e a aliteração (“O ceifeira que cegas cantando”, v. 59).

Em “Poveirinhos”, é observável o uso da apóstrofe (“Ó meu pai, não ser eu dos poveirinhos!”, v. 9) e de um eufemismo (“Calafetados pelo breu das Dores”, v. 7).

Em “Aqui, sobre estas águas cor de azeite”, é recorrente o uso da anáfora (“Sem um beijo, sem uma Ave-Maria, /Sem uma flor, sem o menor enfeite”, vv. 7 e 8) e a adjetivação (“Lar adorado, em fumos, a distância”, v. 10).

Em “Ó virgens que passais” é usada a enumeração (“O vinho, Graça, a formosura, o luar!”, v. 8) e a apóstrofe (“Ó suaves e frescas raparigas”, v. 13).         

Em “Balada do caixão” é claro o uso de diálogos (“- Olá, bom homem! Quero um fato”, v. 11) e referências entre parênteses que evidenciam, para além de comentários frequentes, uma linguagem oralizante (“(pôs-se o bom homem a aplainá-lo)”, v. 20).


(Por motivos de extensão dos poemas analisados, optámos por não os transcrever, já que estes se encontram facilmente na Internet.)

 Escrito por: Domingos Lopes Gallego; Sara Nunes; Catarina Silva e Sofia P. Faustino

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