quarta-feira, 10 de maio de 2017

Escrita sobre a Literatura

Linhas fundamentais do poema “Aquela cativa”, de Luís de Camões.     

        Estamos perante a composição poética “Aquela cativa”, de Luís de Camões, que aborda a temática do amor e da descrição da mulher amada.

        Este poema não está sujeito a mote, no entanto apresenta uma dedicatória que nos retrata Bárbara, uma escrava (“cativa”) que Camões conheceu na Índia, revelando-nos assim o caracter autobiográfico deste texto. O poema começa com um trocadilho, “cativa” e “cativo”, que nos remete para a escravidão amorosa do sujeito poético. Se por um lado Bárbara é escrava socialmente, por outro o sujeito poético também é escravo do seu amor.

          Ao longo desta composição poética, é possível observar vários traços físicos e psicológicos da mulher amada. Camões recorre ao uso da hipérbole para descrever a delicadeza de Bárbara, comparando-a a uma rosa (“Eu nunca vi rosa/ em suaves molhos,/ que para meus olhos/ fosse mais fermosa” vv. 7-10). De seguida, o sujeito poético compara as flores e as estrelas com a sua amada, que sai beneficiada de tal comparação, apresentando características superiores à natureza (“Nem no campo flores,/ nem no céu estrelas/ me parecem belas/ como os meus amores” vv. 11-14). Com a expressão “Rosto singular” (v.15) pretende-se transmitir que o rosto da amada não é um rosto banal, é singular, diferente e único, ou seja, não corresponde aos padrões habituais. Na expressão “Olhos sossegados” (v.16) os olhos são apresentados como um espelho da alma, neste caso “sossegados”, pois Bárbara é apresentada como calma e serena. Mas logo de seguida surgem características que se opõem ao modelo de beleza petrarquista, “pretos e cansados” (v.17), ou seja, olhos escuros e doridos do trabalho como escrava. Já no verso “Mas não de matar” joga-se com as palavras e refere-se que Bárbara está cansada, porém não de matar por amor, sedução e paixão, mas sim pelo trabalho duro. 
        
         De seguida, é feito o reforço da graciosidade da mulher, “Ua graça viva, (…) ” (v.19). Mais uma vez, joga-se com as palavras “senhora” e “cativa”, reforçando a ideia de que apesar de ser escrava é senhora dos corações apaixonados (“Para ser senhora/ de quem é cativa” vv. 21 e 22). Depois, é feita uma referência à opinião do povo perante esta beleza incomum e fora dos padrões da sociedade (“onde o povo vão/ perde opinião/que os louros são belos” vv. 24-26). O “povo vão” corresponde à opinião geral e pouco acertada de que os cabelos louros são belos, sendo que a escrava contrária o modelo de mulher renascentista pelas suas características físicas que fogem ao pré-estabelecido: loira, olhos claros e pele branca. Por outro lado, a sua serenidade, sensatez e calma já se inscrevem nesse modelo.

        Em suma, nesta composição poética o sujeito lírico constrói um elogio à beleza da amada, servindo-se de um discurso encomiástico.


Escrito por: Catarina Silva e Sofia P. Faustino

Sem comentários:

Enviar um comentário