sexta-feira, 12 de maio de 2017

Algumas considerações sobre o poema "Endechas ou canção da diferença"

De Bárbara outro poema outra palavra
Senhora nossa que não tem senhor 

De Bárbara a diferença que faltava 
E nunca mais na língua uma só cor

De Bárbara o ser só ela sendo a outra 
Senhora nossa santa pretidão 

Antes de Bárbara Europa era tão pouca 
Cativos somos nós Bárbara não

ALEGRE, Manuel, 2000. Obra Poética. Lisboa: Dom Quixote 



        Este poema de Manuel Alegre, classificado como uma Endecha está de acordo com a medida velha e as estrofes (voltas) são oitavas divididas em quadras. Estas são as características necessárias para que o texto seja uma Endecha.

          Este texto é uma glosa feita por este autor ao poema "Aquela cativa", de Luís de Camões.

        No que toca ao verso “Senhora nossa que não tem senhor”(v.2) podemos observar que este se inspira no poema “Endechas” de Luís de Camões, mais concretamente nos versos “para ser senhora / de quem é cativa.” (Vv.21,22), em que ambos destacam a supremacia da beleza de Bárbara sobre aqueles que por ela se apaixonam.É através desta contradição de conceitos que podemos justificar o acrescento “canção da diferença”, feito por Manuel Alegre ao título do seu poema.

        Em ambos os poemas (de Luís de Camões e Manuel Alegre) é referida Bárbara, a amada, que era totalmente díspar do conceito de beleza da época. Bárbara era negra, tinha cabelo preto, olhos escuros e era uma cativa (escrava), no entanto o conceito de beleza da época caracterizava-se por cabelo loiro, tez nívea, olhos claros e teria de pertencer a uma classe social alta.

        Deste modo, constatamos que estes poemas que lhe são dedicados, procuram elogiar a diferença da mesma face aos modelos clássicos de beleza.


Escrito por: Domingos Lopes Gallego e Sara Nunes

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