quarta-feira, 17 de maio de 2017

Temática do amor na lírica camoniana

        Nos textos de Camões é frequente a referência ao amor, à saudade, ao destino, à beleza suprema, aos ensinamentos morais, sociais e filosóficos, à mulher vista à luz do petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a experiência da vida. No entanto, a nível temático, o amor é visto como um serviço que transporta o enamorado a um estado de elevação. O amor pode não só provocar, no jovem apaixonado, o gosto na dor, como também conduzi-lo à luta entre a razão e o desejo ou à perturbação emocional perante a amada, como é muito frequente na lírica camoniana.

        Um dos poetas que mais influenciou Camões na sua poesia foi o poeta e humanista italiano Petrarca. O petrarquismo é uma atitude tomada pelo poeta perante a mulher amada. Esta é vista como fonte de perfeição moral, despertando nele uma espécie de amor platónico. A mulher é idealizada, é bela, imaculada, perfeita e, portanto, inalcançável. Ora, o poeta desabafa as suas mágoas à solidão da natureza, que se torna o reflexo dos estados de alma do poeta e, ao mesmo tempo, sua confidente. A influência petrarquista faz com que Camões busque o isolamento e a antecipação do sofrimento no amor. Para demonstrar o seu estado de sofrimento, o poeta utiliza um certo verbalismo, nomeadamente as frases exclamativas abundantes, as personificações, as antíteses e as apóstrofes.

        Em suma, as temáticas tradicionais e populares usadas por Camões são o amor, a natureza e a saudade. Nas temáticas de influência Renascentista cultivou o amor platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo e a mulher vista à luz do Petrarquismo.



Escrito por: Catarina Silva e Sofia P. Faustino

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Algumas considerações sobre o poema "Endechas ou canção da diferença"

De Bárbara outro poema outra palavra
Senhora nossa que não tem senhor 

De Bárbara a diferença que faltava 
E nunca mais na língua uma só cor

De Bárbara o ser só ela sendo a outra 
Senhora nossa santa pretidão 

Antes de Bárbara Europa era tão pouca 
Cativos somos nós Bárbara não

ALEGRE, Manuel, 2000. Obra Poética. Lisboa: Dom Quixote 



        Este poema de Manuel Alegre, classificado como uma Endecha está de acordo com a medida velha e as estrofes (voltas) são oitavas divididas em quadras. Estas são as características necessárias para que o texto seja uma Endecha.

          Este texto é uma glosa feita por este autor ao poema "Aquela cativa", de Luís de Camões.

        No que toca ao verso “Senhora nossa que não tem senhor”(v.2) podemos observar que este se inspira no poema “Endechas” de Luís de Camões, mais concretamente nos versos “para ser senhora / de quem é cativa.” (Vv.21,22), em que ambos destacam a supremacia da beleza de Bárbara sobre aqueles que por ela se apaixonam.É através desta contradição de conceitos que podemos justificar o acrescento “canção da diferença”, feito por Manuel Alegre ao título do seu poema.

        Em ambos os poemas (de Luís de Camões e Manuel Alegre) é referida Bárbara, a amada, que era totalmente díspar do conceito de beleza da época. Bárbara era negra, tinha cabelo preto, olhos escuros e era uma cativa (escrava), no entanto o conceito de beleza da época caracterizava-se por cabelo loiro, tez nívea, olhos claros e teria de pertencer a uma classe social alta.

        Deste modo, constatamos que estes poemas que lhe são dedicados, procuram elogiar a diferença da mesma face aos modelos clássicos de beleza.


Escrito por: Domingos Lopes Gallego e Sara Nunes

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Escrita sobre a Literatura

Linhas fundamentais do poema “Aquela cativa”, de Luís de Camões.     

        Estamos perante a composição poética “Aquela cativa”, de Luís de Camões, que aborda a temática do amor e da descrição da mulher amada.

        Este poema não está sujeito a mote, no entanto apresenta uma dedicatória que nos retrata Bárbara, uma escrava (“cativa”) que Camões conheceu na Índia, revelando-nos assim o caracter autobiográfico deste texto. O poema começa com um trocadilho, “cativa” e “cativo”, que nos remete para a escravidão amorosa do sujeito poético. Se por um lado Bárbara é escrava socialmente, por outro o sujeito poético também é escravo do seu amor.

          Ao longo desta composição poética, é possível observar vários traços físicos e psicológicos da mulher amada. Camões recorre ao uso da hipérbole para descrever a delicadeza de Bárbara, comparando-a a uma rosa (“Eu nunca vi rosa/ em suaves molhos,/ que para meus olhos/ fosse mais fermosa” vv. 7-10). De seguida, o sujeito poético compara as flores e as estrelas com a sua amada, que sai beneficiada de tal comparação, apresentando características superiores à natureza (“Nem no campo flores,/ nem no céu estrelas/ me parecem belas/ como os meus amores” vv. 11-14). Com a expressão “Rosto singular” (v.15) pretende-se transmitir que o rosto da amada não é um rosto banal, é singular, diferente e único, ou seja, não corresponde aos padrões habituais. Na expressão “Olhos sossegados” (v.16) os olhos são apresentados como um espelho da alma, neste caso “sossegados”, pois Bárbara é apresentada como calma e serena. Mas logo de seguida surgem características que se opõem ao modelo de beleza petrarquista, “pretos e cansados” (v.17), ou seja, olhos escuros e doridos do trabalho como escrava. Já no verso “Mas não de matar” joga-se com as palavras e refere-se que Bárbara está cansada, porém não de matar por amor, sedução e paixão, mas sim pelo trabalho duro. 
        
         De seguida, é feito o reforço da graciosidade da mulher, “Ua graça viva, (…) ” (v.19). Mais uma vez, joga-se com as palavras “senhora” e “cativa”, reforçando a ideia de que apesar de ser escrava é senhora dos corações apaixonados (“Para ser senhora/ de quem é cativa” vv. 21 e 22). Depois, é feita uma referência à opinião do povo perante esta beleza incomum e fora dos padrões da sociedade (“onde o povo vão/ perde opinião/que os louros são belos” vv. 24-26). O “povo vão” corresponde à opinião geral e pouco acertada de que os cabelos louros são belos, sendo que a escrava contrária o modelo de mulher renascentista pelas suas características físicas que fogem ao pré-estabelecido: loira, olhos claros e pele branca. Por outro lado, a sua serenidade, sensatez e calma já se inscrevem nesse modelo.

        Em suma, nesta composição poética o sujeito lírico constrói um elogio à beleza da amada, servindo-se de um discurso encomiástico.


Escrito por: Catarina Silva e Sofia P. Faustino

segunda-feira, 8 de maio de 2017

A vírgula salvadora

Parece simples e é frequentemente ignorada ou mal utilizada, mas um grupo de trabalhadores americanos levou-a consigo a tribunal e ganhou.



A companhia de lacticínios Oakhurst Dairy, no estado americano do Maine, perdeu um processo em tribuna, no dia 13, quando um juiz decidiu a favor dos trabalhadores que afirmavam ter direito a receber mais pelas horas extraordinárias de trabalho.

A decisão foi tomada com base na falta de uma virgula nas leis do Maine- a chamada "virgula de Oxford", que se utiliza antes de um "e"/"ou" para clarificar o sentido de uma frase, O código laboral do estado exclui certas atividades da lista de tarefas que permite receber por horas extra. E, segundo os trabalhadores, a lei separa por virgulas, em todos os casos menos um, as tarefas que não entram por essas contas. O empacotamento para envio ou distribuição, por não dividir as atividades, torna-se ambiguo no que diz respeito aos pagamentos, argumentam.
Os empregados afirmam não entender se o empacotamento para envio ou distribuição são atividades separadas ou uma só. No segundo caso, a atividade seria o empacotamento, para envio ou distribuição de produtos. A distribuição feita em horas extraordinárias teria então que ser paga pela empresa.
A vitória foi dos empregados. A decisão do tribunal pode agora significar o pagamento a 75 empregados de um valor até dez milhões de dólares (9,3 milhões de euros).


Fonte: Revista Visão Edição Especial 24 Anos.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Dia da Língua Portuguesa assinala-se em 49 países com 210 iniciativas


As celebrações do Dia da Língua Portuguesa e das Culturas, na sexta-feira, vão este ano realizar-se em 49 países, com 210 iniciativas destinadas a assinalar o dia, anunciou hoje o Instituto Camões.

As atividades caracterizam-se pela “diversidade, nalguns casos são colóquios, conferências e encontros com escritores de língua portuguesa”, e noutros são “peças de teatro, mostras de cinema em português, tanto documentários como curtas e longas-metragens, e artes do espetáculo de áreas multidisciplinares, como a música e a dança”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

Na sessão de apresentação das atividades promovidas pelo Instituto Camões, que decorreu hoje em Lisboa, o ministro vincou que o objetivo principal das sessões descentralizadas, que decorrem em vários continentes em datas próximas do dia 05, é valorizar o português como “uma das grandes línguas globais” da atualidade, falada por 261 milhões de pessoas e a língua mais falada no hemisfério sul.

De acordo com a lista, apresentada pela presidente do Instituto Camões, Ana Paula Laborinho, há uma sessão de cinema em português em Havana, por exemplo, e uma apresentação de canto alentejano em Timor-Leste, para além de outras iniciativas em países como França, Espanha, Uruguai, República Checa, Geórgia, Congo, China e Índia.

Questionado sobre a dispersão destas iniciativas e a falta de um ponto central nas comemorações, Santos Silva argumentou que "em muitas destas 210 iniciativas estão presentes e colaboram embaixadas ou instituições de vários países da CPLP, nalgumas estão todos os países, noutras alguns, e portanto não se trata de uma tarefa exclusiva do Camões, mas sim uma tarefa que o instituto desempenha no cumprimento das responsabilidades e em muitos outros lugares em colaboração com os seus congéneres ou embaixadas da CPLP".

Augusto Santos Silva prevê que a língua portuguesa se expanda a 400 milhões de falantes em meados deste século, relacionando esta previsão com o potencial demográfico de crescimento dos países africanos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“A língua é o fator mais forte da identidade coletiva”, concluiu o governante.

Fonte: Agência Lusa

Glosando o poema "Descalça vai para a fonte"

Chegada Leanor à fonte,
confiando de encontrar
o amigo que lhe apraz amar,  
descobre em volta o monte,
procurando o amor olhar.
Com face de suave brancura
está fermosa e não segura.

Lavando a talha e chorando,
vendo que ele não viera,
dela a tristeza se apodera.
Vêm as amigas cantando,
espantadas com tal pranto.
Acodem sua desventura;
está fermosa e não segura.



Autores: Catarina Silva e Domingos Lopes Gallego

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Datiloescrito da lírica camoniana


Glosando o poema "Descalça vai para a fonte"


Vai Leanor para a fonte
cantando e suspirando,
com o desejo de o ver por perto
voou sem asas; estava cega,
posto o pensamento nele,
procurando render-se a ele,
vai fermosa, e não segura

Nunca vi rosa tão fermosa,
caminhando com um sorriso
entre rubis e perlas doce riso,
cinta de couro encarnada,
cabelos d’ouro trançado,
caminhava pela verdura,
vai fermosa, e não segura


Autoras: Sofia P. Faustino e Sara Nunes