Poema "Barca bela", de Almeida Garrett:
Pescador da barca bela,
Onde vás pescar com ela.
Que é tão bela,
Ó pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Ó pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela...
Mas cautela,
Ó pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela,
Só de vê-la,
Ó pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela
Foge dela
Ó pescador!
Nuno Júdice afirma que «"Barca bela" é o poema de Garrett com menos conotação sentimental», com o qual concordo.
Em todos os poemas de Garrett estudados em aula assistimos a uma espécie de poesia autobiográfica, na qual o sujeito poético relata em primeira mão o drama sentimental em que está envolvido, enquanto que na "Barca bela" tal não acontece.
Nos poemas deste autor é ainda frequente assistirmos à superlativação da mulher, que o domina e avassala e pelo qual este possui um amor intenso, um "morrer de amor". Em "Barca bela", no entanto, o sujeito poético aconselha o pescador a fugir de tal domínio e subjugação, dizendo-lhe "Inda é tempo, foge dela" (verso 18), isto é, já não está presente o sentimento de entrega amorosa. Garrett dá ao pescador o conselho que, talvez, gostaria que lhe tivessem dado.
Como tal, e por este ser, na minha opinião, o poema mais "impessoal" de Garrett, é também o menos emotivo.
Autora: Catarina Silva
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