Nos poemas “A
um poeta” e “A ideia IV”, de Antero de Quental, é possível distinguirmos certas
linhas temáticas fundamentais que constituem a sua produção mais significativa.
No poema A,
apela-se aos que vivem em passividade, incitando-os a sonhar e a mudar o
futuro; na verdade, acaba por haver uma solicitação à mudança. Esta temática de
metamorfismo está também presente no poema B, no qual é feito um apelo ao poeta
para que mude o seu futuro, sendo que só pode fazê-lo sozinho.
Quanto à
estrutura externa, ambas as composições poéticas são sonetos, constituídas por
duas quadras e dois tercetos e compostas por versos decassilábicos. No soneto
A, deparamo-nos com uma rima interpolada ao longo de todo o poema e emparelhada
na terceira e na quarta estrofe. No soneto B, assistimos a uma rima cruzada nos
tercetos e emparelhada e interpolada nas quadras.
Em relação à
estrutura interna, em ambos os textos distinguimos duas partes. No texto A, na primeira
parte, proscrita entre os versos 1 a 4, que corresponde à introdução, há uma
descrição da situação em que se encontra o interlocutor. Na segunda parte, os
restantes versos, há um apelo ao «soldado do Futuro» para que este lute por
uma sociedade melhor. No texto B, na primeira e na segunda estrofe, há uma
descrição da situação em que se encontra o sujeito poético. Já na terceira e
quarta estrofes, há um apelo à ação.
Em ambos os sonetos,
o destinatário é o poeta, ocorrendo o uso do vocativo «Tu». É ainda frequente a
aplicação de formas verbais no imperativo, mantendo sempre um tom apelativo. Surge
a noção do vate enquanto ser solitário, que não pode contar com mais ninguém,
sendo ele mesmo a liderar a mudança social, política e literária. Há um anúncio
do poeta como voz da revolução.
Quanto aos
recursos estilísticos, estamos perante o uso corrente de comparações, metáforas, personificações
e apóstrofes.
Deste modo, sistematizámos as linhas fundamentais de leitura desta temática na poesia de Antero de Quental, que corresponde ao sentir mais fundo do seu tempo e, quem sabe, do nosso zeitgeist.A um poeta (poema A)
Surge et ambula!*
Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!
Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate.
*expressão latina que significa "Acorda e anda".
Sonhador, faze espada de combate.
*expressão latina que significa "Acorda e anda".
A Ideia (poema B)
IV
Conquista, pois, sozinho o teu Futuro,
Já que os celestes guias te hão deixado,
Sobre uma terra ignota abandonado,
Homem ‑ proscrito rei ‑ mendigo escuro!
Se não tens que esperar do céu (tão puro
Mas tão cruel!) e o coração magoado
Sentes já de ilusões desenganado,
Das ilusões do antigo amor perjuro;
Ergue-te, então, na majestade estoica
De uma vontade solitária e altiva,
Num esforço supremo de alma heroica
Faze um templo dos muros da cadeia.
Sentes já de ilusões desenganado,
Das ilusões do antigo amor perjuro;
Ergue-te, então, na majestade estoica
De uma vontade solitária e altiva,
Num esforço supremo de alma heroica
Faze um templo dos muros da cadeia.
Prendendo a imensidade eterna e viva
No círculo de luz da tua Ideia!
Autores: Sofia P. Faustino, Catarina Silva, Sara Nunes, Domingos Lopes Gallego.
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