sexta-feira, 25 de maio de 2018

Do provérbio ao enredo na obra "A farsa de Inês Pereira", de Gil Vicente


O Auto de Inês Pereira, de Gil Vicente, glosa o provérbio “mais vale asno que me leve do que cavalo que me derrube”, dito este que serviu de base para a sua escrita. 
O provérbio apresentado torna claro que é preferível um “asno” que nos leve, ou seja, alguém que nos apoie e que caminhe ao nosso lado do que alguém que nos rebaixe – um “cavalo” que nos derrube. Nesta obra, o asno é representado por Pêro Marques e o cavalo pelo Escudeiro.
Inês, como tinha uma imagem de marido idealizado na cabeça, inicialmente preferiu ficar com o Escudeiro em vez de ficar com Pêro. Este primeiro marido era belo, supostamente rico e tinha um estatuto social que agradava Inês. No entanto, este tratava-a mal, dirigindo-se a Inês várias vezes dizendo “vós não haveis de falar / com homem nem mulher que seja” (vv. 795 e 796); “estareis aqui encerrada / nesta casa, tao fechada / como freira d’Oudivelas” (vv 801-803); e “Vós não haveis de mandar / em casa somente um pelo” (vv.813 e 814). 
Por sua vez, Pêro Marques era um homem honesto, preocupado e zelava pelo bem-estar de Inês, “levando-a” em vez de a “derrubar”. Apesar de não ser rico nem possuir muitos bens, o seu objetivo era amar e cuidar de Inês e fazer desta a sua mulher, nunca a proibindo de fazer as suas vontades, como é visível nesta passagem “Com que podeis vós folgar/ qu’eu não deva consentir?” (vv. 1005 e 1006).
Deste modo, é claro que o provérbio ilustra de uma forma exata o desfecho da obra, mostrando que, em várias situações da nossa vida, é sempre melhor ter alguém que nos apoie, acompanhe ao longo do nosso caminho e que nos permita ser felizes, do que alguém que nos impeça de atingir os nossos objetivos, derrubando-nos e não correspondendo à pessoa idealizada que acreditávamos que fosse.
 
Autores: Maria Garcia, Francisco Grilo

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