Na introdução desta obra assistimos à caracterização de Bernardim Ribeiro e Gil Vicente.
Em primeiro lugar, Gil Vicente é, efetivamente, apresentado na peça de Garrett enquanto "homem do povo" (l. 99), querendo e fazendo tudo pela sua arte, sendo que procura sempre aperfeiçoá-la e ser reconhecido socialmente, algo que temos, de facto, vindo a confirmar no "Auto de Gil Vicente".
Já Bernardim Ribeiro, "nobre e cavalheiro" (l. 108), dedicava-se às letras por passatempo, visto que servia a corte por ofício, contrastando com Mestre Gil, que "viveu independente no meio da dependência" e se viu livre da escravidão da corte.
Em segundo lugar, estamos perante um carácter "original e atrevido" (l. 104) de Gil Vicente, uma vez que lhe era permitido, como o próprio D. Manuel sugere, a crítica à sociedade nos seus diversos domínios ("Nunca me escondi de priores nem de cónegos (...) Vossa Alteza sabe bem que não sou medroso. Quando eu fiz o clérigo da Beira..."- Um Auto de Gil Vicente, cena 6, ato I).
Por outro lado, assistimos a um carácter menos mordaz e mais sentimental de Bernardim, explanado na "Introdução" desta obra ("e amar nele foi viver - amou como poeta" - l. 111) e no próprio texto em si, em concreto nos amores que viveu com D. Beatriz. Constata-se, assim, o sentimentalismo do autor de Menina e Moça, que, ao contrário de Gil Vicente, não procurou reconhecimento social, mas antes a realização pessoal e sentimental.
Concluindo, assistimos a uma concordância do esboço inicial das personagens com o seu desempenho ao longo da ação.
Autora: Catarina Silva
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