quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Os 12 melhores livros portugueses dos últimos 100 anos

A revista Estante convidou um júri de cinco elementos, composto pela jornalista Clara Ferreira Alves, o crítico Pedro Mexia, o professor catedrático Carlos Reis, o editor Manuel Alberto Valente e a jornalista Isabel Lucas, para eleger os 12 melhores livros portugueses dos últimos 100 anos. 




Ao longo de dez edições, a revista Estante tem vindo a entrevistar muitos autores portugueses, explorando várias temáticas nas quais a língua portuguesa surge como pano de fundo. Tinham desde o início uma vontade que transformaram em desafio e materializaram em iniciativa: eleger os melhores livros portugueses.
O desafio não se adivinhava fácil: escolher os melhores livros portugueses dos últimos 100 anos. Contudo, reunidos à volta de uma mesa, a escolha foi até bastante rápida.
O júri selecionou os melhores livros portugueses dos últimos 100 anos, restringindo a escolha a obras de ficção narrativa publicadas entre 1 de janeiro de 1916 e 1 de janeiro de 2016. A eleição recaiu sobre os 12 livros que se apresentam abaixo, sem qualquer ordem a não ser a alfabética.
Curiosamente, entre os autores dos livros selecionados apenas dois estão vivos: António Lobo Antunes e Agustina Bessa-Luís. Deixamos mais informação sobre cada um destes livros que ajudam não só a justificar a escolha do júri, mas a enquadrar a importância de cada uma das obras na literatura portuguesa dos últimos 100 anos.

A Casa Grande De Romarigões 
 Sabias que a Casa Grande de Romarigães é real e que aí moraram o ex-Presidente da República Bernardino Machado e o próprio Aquilino Ribeiro (1885-1963)?
O escritor beirão sobre quem Fernando Namora disse ser “aquele jovem que trouxera a província para a cidade” conta nesta obra, publicada pela primeira vez em 1957, a história de Portugal através desta casa parcialmente em ruínas. Aquilino Ribeiro encontrou correspondências entre antigos habitantes da casa, datadas entre 1680 e 1828, e decidiu continuar a história. 

A Sibila
 A Sibila consagra Agustina Bessa-Luís (nascida em 1922) como um dos nomes a ter em conta na ficção portuguesa contemporânea após a sua publicação, em 1954.
O sentimento telúrico está presente em quase toda a sua obra e neste livro há uma espécie de chuva torrencial de memórias das personagens, onde o passado legitima o presente e vice-versa.
A autora inaugura uma nova forma de narração que irá caracterizar toda a sua obra e tem três eixos fundamentais: o papel das mulheres, a importância da recordação e um discurso que se repete mas acrescentando sempre novas informações. Há uma complexidade na obra de Agustina que a torna única na literatura portuguesa.

Finisterra 
 Sobre esta obra, Herberto Helder deixou-nos estas palavras: “Proposto como romance, é antes uma alegoria ficcionalmente articulada que pode ser lida na perspetiva de uma espécie de cartografia imaginária do autor, constituindo assim a melhor introdução ou o melhor comentário à sua obra.”
Publicado em 1978, Finisterra tem como pano de fundo a paisagem gandaresa e explora a decadência de uma família, espelhada numa casa em estado de degradação contínuo.
Na obra, Carlos de Oliveira (1921-1981) explora também a interpretação subjetiva do homem no seu contacto com a realidade.

Húmus 
 Publicado em 1917, no ano da revolução soviética, Húmus tem um toque de socialismo cristão. O livro começa e acaba fazendo referências à morte, sendo que o próprio título nos remete para a “camada superior do solo, composta em especial de matéria orgânica, decomposta ou em decomposição”.
Nesta obra de Raul Brandão (1867-1930) a ficção dilui-se na prosa, numa vila literária criada pelo próprio autor. Um livro que tem tanto de mórbido como de inovador para a época em que foi lançado.

Livro do Desassossego 
 Sabias que este livro foi publicado em 1982, 47 anos depois da morte de Fernando Pessoa (1988-1935)? Sobre o livro, o próprio autor resume: “São as minhas confissões e, se nelas nada digo, é que nada tenho para dizer.”
Escrito durante mais de 20 anos sob o heterónimo de Bernardo Soares, personagem criada por Pessoa, são mais de 500 textos sem qualquer sequência entre si. E é um livro inacabado.
Os textos passam-nos a inquietação, a angústia, mas também a lucidez e a capacidade de reflexão do autor, demonstrando a complexidade da mente de Pessoa e as inúmeras dúvidas que o próprio tinha acerca da sua personalidade e sobre a vida.

Mau Tempo no Canal
 David Mourão-Ferreira descreve este livro como “a obra romanesca mais complexa, mais variada, mais densa e mais subtil em toda a nossa história literária”.
Mau Tempo no Canal demorou cinco anos a ser escrito por Vitorino Nemésio (1901-1978) e parte da história do casal Margarida Clark Dulmo e João Garcia. Mas Vitorino Nemésio serve-se destes personagens apenas como gancho para nos relatar uma sociedade açoriana estratificada, com todos os problemas que a atingem: angústias, sofrimentos, paixões e o sentimento tão único de ser ilhéu.

O Ano da Morte de Ricardo Reis
 A obra de José Saramago (1922-2010) é tão singular que lhe valeu o Prémio Nobel de Literatura – o único que Portugal recebeu até hoje nesta área.
O Ano da Morte de Ricardo Reis é não só peculiar como faz por questionar tudo o que nos rodeia. Quem somos? O que nos acontece quando morremos? Somos únicos ou, como Fernando Pessoa, somos vários?
O livro conta a história do regresso a Portugal, vindo do Brasil, de Ricardo Reis, o heterónimo de Pessoa, quando confrontado com a morte do seu criador. É um livro denso mas vai envolvendo o leitor do início ao fim, fazendo também uma viagem pela história de Portugal.

O Delfim
 Nesta obra publicada em 1968, José Cardoso Pires (1925-1988) procura olhar para outros homens e entendê-los, como tão bem explica Gonçalo M. Tavares no prefácio.
Em O Delfim assistimos a uma escrita despojada por parte de um autor que procura transparência. Cardoso Pires descreve o regime salazarista e debruça-se sobre a forma como este afeta as relações entre as pessoas. É este equilíbrio entre a metaforização de um regime e a descrição do seu declínio que torna O Delfim uma obra tão relevante para a literatura portuguesa.

Os Cus de Judas
 “A dolorosa aprendizagem da agonia.” É assim que António Lobo Antunes (nascido em 1942) classifica a guerra de Angola. Neste livro, o autor reflete sobre os horrores a que assistiu durante os dois anos em que esteve destacado na ex-colónia portuguesa em formato de testemunho.
É o seu segundo livro, publicado em 1979, e o veículo para uma voz demasiado tempo silenciada, que vem contar a sua versão dos factos, concluindo que aquela guerra não passou de um “gigantesco” e “inacreditável” absurdo.
Os Cus de Judas é um relato doloroso das vivências de Lobo Antunes em Angola, no qual o narrador deixa transparecer feridas ainda bem abertas.

Os Passos em Volta 
 Publicado em 1963, Os Passos em Volta está entre o conto, o romance e o discurso autobiográfico, num livro que espelha o homem-poeta com um tom refletivo de quem procura respostas.
Sendo um dos pioneiros do surrealismo em Portugal, Herberto Helder (1930-2015) escreve: “Não queremos este inferno. Deem-nos um pequeno paraíso humano.”
Este livro retrata a busca incessante de um homem para o sentido da sua existência e é também uma obra que nos transcende.

Para Sempre
 Este romance semiautobiográfico de Vergílio Ferreira (1916-1996) transpõe para a narrativa, como grande parte da obra do autor, o pensamento filosófico e a sensação de inquietude do indivíduo.
Para Sempre é uma obra onde a morte está presente do início ao fim, mas que surge ao leitor como a única solução para o fim do sofrimento. Nas páginas deste livro acompanhamos a dor do protagonista e partilhamos a sua mágoa, como se fossemos nós a senti-la.
A forma como Vergílio Ferreira explora a língua portuguesa para transmitir emoções é de uma mestria digna de destaque.

Sinais de Fogo 
 É em paralelo com a Guerra Civil Espanhola que este romance autobiográfico acontece, na década de 1930.
Sinais de Fogo é uma obra inacabada e publicada em 1979, um ano após a morte do autor, que tem como eixo central a paixão de Jorge por Mercedes. É nos episódios que rodeiam esta relação que Jorge de Sena (1919-1978) coloca toda a poesia deste romance, considerado por muitos um marco da literatura portuguesa da segunda metade do século XX.

Fonte:  Agenda Cultural de Lisboa; http://www.revistaestante.fnac.pt/os-12-melhores-livros-portugueses-dos-ultimos-100-anos/

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