quinta-feira, 19 de abril de 2018

Linhas temáticas e estilo de Camilo Pessanha

Após a leitura de Camilo Pessanha, é possível distinguirmos as linhas temáticas e estilo predominantes.

Segundo Jacinto do Prado Coelho, “Ninguém melhor que Pessanha transmitiu associações subtis de sentimentos e sensações”. Camilo recorre frequentemente a imagens e símbolos subtis e fugidios para exprimir as suas ideias, por este motivo a sua poesia revela-se uma das mais difíceis de se decifrar. É visível, ao longo de toda a sua obra, um respeito pela estética simbolista em que as descrições apresentam contornos indefinidos, tal como no impressionismo.
 
É recorrente o uso de vocábulos que funcionam como símbolos reveladores de sentimentos ou realidades: as rosas representam o amor, os castelos e os sonhos. O desfolhar das rosas surge como representação da fragilidade do amor, enquanto “acrópole de gelos” figura como alegoria da morte.

No poema “Floriram por engano as rosas bravas”, faz-se uma alusão à passagem do tempo concretizada na sugestão do amadurecimento do sujeito poético e da sua amada, através da imagem “cai neve nupcial” - isto sugere os seus cabelos brancos e a referência ao próprio inverno como representação da velhice. É também aparente a expressão da união e desencontro concretizada na antítese dos versos 6 e 7 (“Onde vamos, alheio o pensamento, / de mãos dadas? Teus olhos, que um momento/ perscrutaram nos meus, como vão tristes!”)

 Concluindo, em grande parte das composições de Camilo Pessanha tudo é sugerido e nada é dito explicitamente.


Floriram por engano as rosas bravas

Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
As vozes com que há pouco me enganavas?
 
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!

 
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
 
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze - quanta flor! - do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos?

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra' 

 Autores: Domingos Lopes Gallego, Catarina Silva, Sofia P. Faustino e Sara Nunes. 

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