No auto de Inês Pereira podemos assistir à utilização de um registo cómico. Para esse efeito, Gil Vicente recorre ao uso do sarcasmo e da ironia, que é utilizado na peça como instrumento de crítica e motivador de riso, aparecendo sob inúmeras formas. São exemplos dessa ironia na farsa: “Que siso, Inês, que siso/ tens debaixo desses véus…” (vv. 469 e 470). Nesta peça, verificamos também a presença de diferentes tipos de cómico.
Em primeiro lugar, assistimos ao cómico de linguagem através do tom coloquial, tal como provérbios e ditos populares. Tal cómico é observável nas expressões provincianas de Pero Marques, representante da cultura popular, «Estas vos são elas a vós / anda homem a gastar calçado / e quando cuida que é aviado, / escarnefucham de vós!» (vv. 349 - 352).
Em segundo lugar, presenciamos o cómico de carácter ou de personagem, utilizado através das personagens-tipo vicentinas, como, por exemplo, Pero Marques com o seu desconhecimento da cultura da cortesia, «Pois, senhora, eu quero-m’ ir / antes que venha o escuro» (vv. 337 - 338).
Por último, observamos o cómico de situação, em que se atinge o grotesco, como na inabilidade de Pero Marques de se sentar numa cadeira. Este está também presente no episódio final da farsa, «Marido cuco me levades / E mais duas lousas» (vv. 1115 - 1116), «Bem sabedes vós marido / quanto vos amo / sempre fostes percebido / pera gano. / Carregado ides, noss’amo, / com duas lousas.» (vv. 1125 - 1130).
Autores: Catarina Silva e Sofia P. Faustino
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