terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Conto: A menina dos fósforos

Estava tanto frio! A neve não parava de cair e a noite aproximava-se. Aquela era a última noite de Dezembro, véspera do dia de Ano Novo. Perdida no meio do frio intenso e da escuridão, uma pobre rapariguinha seguia pela rua fora, com a cabeça descoberta e os pés descalços. É certo que ao sair de casa trazia um par de chinelos, mas não duraram muito tempo, porque eram uns chinelos que já tinham pertencido à mãe, e ficavam-lhe tão grandes, que a menina os perdeu quando teve de atravessar a rua a correr para fugir de um trem. Um dos chinelos desapareceu no meio da neve, e o outro foi apanhado por um garoto que o levou, pensando fazer dele um berço para a irmã mais nova brincar.



Por isso, a rapariguinha seguia com os pés descalços e já roxos de frio; levava no avental uma quantidade de fósforos, e estendia um maço deles a toda a gente que passava, apregoando: — Quem compra fósforos bons e baratos? — Mas o dia tinha-lhe corrido mal. Ninguém comprara os fósforos, e, portanto, ela ainda não conseguira ganhar um tostão. Sentia fome e frio, e estava com a cara pálida e as faces encovadas. Pobre rapariguinha! Os flocos de neve caíam-lhe sobre os cabelos compridos e loiros, que se encaracolavam graciosamente em volta do pescoço magrinho; mas ela nem pensava nos seus cabelos encaracolados. Através das janelas, as luzes vivas e o cheiro da carne assada chegavam à rua, porque era véspera de Ano Novo. Nisso, sim, é que ela pensava.

Sentou-se no chão e encolheu-se no canto de um portal. Sentia cada vez mais frio, mas não tinha coragem de voltar para casa, porque não vendera um único maço de fósforos, e não podia apresentar nem uma moeda, e o pai era capaz de lhe bater. E afinal, em casa também não havia calor. A família morava numa água-furtada, e o vento metia-se pelos buracos das telhas, apesar de terem tapado com farrapos e palha as fendas maiores. Tinha as mãos quase paralisadas com o frio. Ah, como o calorzinho de um fósforo aceso lhe faria bem! Se ela tirasse um, um só, do maço, e o acendesse na parede para aquecer os dedos! Pegou num fósforo e: Fcht!, a chama espirrou e o fósforo começou a arder! Parecia a chama quente e viva de uma candeia, quando a menina a tapou com a mão. Mas, que luz era aquela? A menina julgou que estava sentada em frente de um fogão de sala cheio de ferros rendilhados, com um guarda-fogo de cobre reluzente. O lume ardia com uma chama tão intensa, e dava um calor tão bom! Mas, o que se passava? A menina estendia já os pés para se aquecer, quando a chama se apagou e o fogão desapareceu. E viu que estava sentada sobre a neve, com a ponta do fósforo queimado na mão.

Riscou outro fósforo, que se acendeu e brilhou, e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente como tule. E a rapariguinha viu o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta por uma toalha branca, resplandecente de loiças finas, e mesmo no meio da mesa havia um ganso assado, com recheio de ameixas e puré de batata, que fumegava, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que alegria! De repente, o ganso saltou da travessa e rolou para o chão, com o garfo e a faca espetados nas costas, até junto da rapariguinha. O fósforo apagou-se, e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.

E acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal. Era ainda maior e mais rica do que outra que tinha visto no último Natal, através da porta envidraçada, em casa de um rico comerciante. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes, e figuras de todas as cores, como as que enfeitam as montras das lojas, pareciam sorrir para ela. A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas de Natal começaram a subir, a subir, e ela percebeu então que eram apenas as estrelas a brilhar no céu. Uma estrela maior do que as outras desceu em direcção à terra, deixando atrás de si um comprido rasto de luz.

«Foi alguém que morreu», pensou para consigo a menina; porque a avó, a única pessoa que tinha sido boa para ela, mas que já não era viva, dizia-lhe muita vez: «Quando vires uma estrela cadente, é uma alma que vai a caminho do céu.»

Esfregou ainda mais outro fósforo na parede: fez-se uma grande luz, e no meio apareceu a avó, de pé, com uma expressão muito suave, cheia de felicidade!

— Avó! — gritou a menina — leva-me contigo! Quando este fósforo se apagar, eu sei que já não estarás aqui. Vais desaparecer como o fogão de sala, como o ganso assado, e como a árvore de Natal, tão linda.

Riscou imediatamente o punhado de fósforos que restava daquele maço, porque queria que a avó continuasse junto dela, e os fósforos espalharam em redor uma luz tão brilhante como se fosse dia. Nunca a avó lhe parecera tão alta nem tão bonita. Tomou a neta nos braços e, soltando os pés da terra, no meio daquele resplendor, voaram ambas tão alto, tão alto, que já não podiam sentir frio, nem fome, nem desgostos, porque tinham chegado ao reino de Deus.

Mas ali, naquele canto, junto do portal, quando rompeu a manhã gelada, estava caída uma rapariguinha, com as faces roxas, um sorriso nos lábios… mor ta de frio, na última noite do ano. O dia de Ano Novo nasceu, indiferente ao pequenino cadáver, que ainda tinha no regaço um punhado de fósforos. — Coitadinha, parece que tentou aquecer-se! — exclamou alguém. Mas nunca ninguém soube quantas coisas lindas a menina viu à luz dos fósforos, nem o brilho com que entrou, na companhia da avó, no Ano Novo.

Video: http://videos.sapo.tl/zrZ6QWPzNPkcmFb65viJ

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Sugestões de Filmes

Hans Christian Andersen - My Life as a Fairy Tale 


"Hans Christian Andersen era um jovem e tinha como ambição conquistar a cidade de Amsterdão. Com os seus pertences nas mãos, coragem de deixar a mãe e muita imaginação, ele partiu. Dos seus sonhos surgiram as mais belas histórias infantis, contos de fada que tornaram-se clássicos: A Pequena Sereia , O Patinho Feio , Soldadinho de Chumbo , entre outras que o fizeram conquistar o mundo."

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Espólio de José Saramago será doado à Biblioteca Nacional de Portugal

O espólio do escritor português José Saramago vai ser doado no dia 10 à Biblioteca Nacional (BNP), cumprindo-se uma vontade do Nobel da Literatura, revelou à agência Lusa a Fundação José Saramago.

Em comunicado, a fundação refere que esta será uma doação "sem contrapartidas financeiras", ficando a BNP responsável pelo "tratamento, conservação e disponibilização para investigadores".

"Para aqueles a quem cabe continuar José Saramago, família e fundação, esta era a sua vontade e será respeitada", afirmou Pilar del Río, presidente da fundação, no comunicado enviado à Lusa.
A sessão formal de doação acontece no dia 10, com as presenças do primeiro-ministro português, António Costa, e do ministro da Cultura português, Luís Filipe Castro Mendes, no dia em que se cumprem 18 anos da entrega do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago e em que se assinala o
Dia Internacional dos Direitos Humanos.

"O espólio podia ter sido vendido a instituições privadas, mas fica em Portugal tornando os portugueses, de alguma forma, seus herdeiros. Trata-se dos materiais que constituem a oficina de um escritor", sublinha a fundação.

A entidade não especifica se será doado todo o espólio de Saramago, referindo-se apenas que o autor já tinha entregue à BNP alguns documentos, entre eles o original do romance "O ano da morte de Ricardo Reis" e o diploma do Nobel da Literatura.

É na Fundação José Saramago, criada em 2007, que está depositado atualmente o espólio do escritor português e que inclui todas as obras, discursos, diplomas, correspondência e uma biblioteca com mais de 20 mil títulos.

Presidida por Pilar del Río, a fundação tem sede em Lisboa e delegações na aldeia da Azinhaga (Golegã), onde Saramago nasceu, e em Lanzarote (Espanha), onde viveu.

Em 2007, o escritor redigiu a carta de princípios da fundação, sublinhando que esta devia assumir "nas suas atividades, como norma de conduta, tanto na letra como no espírito, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada em Nova Iorque no dia 10 de dezembro de 1948".

José Saramago, autor de romances como "Memorial do convento", "O evangelho segundo Jesus Cristo", "Levantado do chão" e "Jangada de pedra", traduzido em mais de 40 línguas, morreu aos 87 anos, a 18 de junho de 2010.

Fonte: http://estudante.sapo.tl/artigos/artigo/espolio-de-jose-saramago-sera--381896.html

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Diário de Escárnio e Maldizer

29 de Janeiro de 1230

Rogou-me hoje Dom Airas que meu conselho lhe desse.
E eu, pois que sempre a este meu amigo conselh’o milhor, lhe disse que vá morar longe de mim, muito a meu grado!
Afirmarei publicamente, ora para todos veerem que, por ser mentiroso e possuidor de poucas qualidades, deve ir para longe de mim, com meu grado!
Acredite ele, amigo, que com meu conselho não ficará peior, acredite em mim, pois que mentiroso não sou, como vossemecê. Conselho vos dou d’amigo, e sei que se vós o fazerdes e me d’aquesto creverdes, favor a todos nós fazes por ires morar longe daqui, e mui com meu grado!
Meu caro amigo, pois no dia em que me mentiu perdeu mia amizade, e a ele lhe digo então: que tu e as tuas mentiras vão morar longe de mim, muito a meu grado. 

                        
                                                                                             El rei, Afonso X


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Sugestões de Leitura:

História da Beleza 

Género: Artes e História
Autor: Umberto Eco

"O livro é, desde já, um mais que provável best-seller, com a sua tradução já preparada em 14 línguas, um excelente formato editorial e uma sobrecapa irresistível, de onde a Leonor de Toledo pintada por Bronzino nos olha com a pose distante e inatingível do tempo e distância que dela nos separam. [...] Este livro conta o modo como os homens e as mulheres consideram o belo através dos tempos. [...]"


História do Feio 

Género: Artes e História
Autor: Umberto Eco

"História do Feio vem na sequência do anterior - História da Beleza. Aparentemente, beleza e fealdade são conceitos que mutuamente se exigem: habitualmente entende-se a fealdade como o oposto da beleza, de modo que bastaria definir a primeira para se saber o que é a outra. Mas as diversas manifestações do feio através dos séculos são mais ricas e imprevisíveis do que comummente se julga."



És bonito sejas como fores

És bonito sejas como fores
negro ou branco não interessa
és uma pessoa especial
acredita na tua aparência.

Tu és único no mundo
o futuro é todo teu
vai em frente e não desistas
ouve este conselho meu.


Autores: Grupo do Tomás Catita e do Pedro Afonso, 5.º C





domingo, 4 de dezembro de 2016

A beleza

Ninguém é perfeito;
Nem por fora nem por dentro;
Mas não interessa os nossos defeitos;
Mas sim as nossas qualidades.

A beleza está no nosso coração;
Mas não no nosso olhar.
Podemos acrescentar as nossas qualidades,
e expulsar o que de nós há de mal.


Autores: Grupo do Tomás Pereira e Inês Tavares, 5.ºA

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A floresta e os seus segredos

Numa noite chuvosa,
Uma raposa adormecida,
Em sua caverna verde como seus olhos,
Acorda e sai de casa, divertida.

Mas quando se apercebe,
De sua casa longe está,
Muito preocupada,
Tenta voltar a casa,
Mas o caminho não encontra.

Muito assustada, a raposinha,
Encontra um mocho sábio,
Que lhe disse que não tarda nada
Irá haver uma grande chuvada.

A raposinha tenta procurar abrigo,
Mas, tarde de mais,
Tentando enfrentar o perigo,
Cai no chão, desmaiada.

Então veio uma rapariga,
Com um ar preocupado,
Pois avisou
Que estava a tirar o mestrado.

Encontra a raposinha e exclama,
De espanto:
- Oh querida raposinha
O que te foi acontecer?

E, correndo muito depressa,
Vai para casa com pressa,
Entretanto a raposinha acorda
E começa a chorar.

A menina depressa a sua casa a foi entregar.
Com seu pai e sua mãe,
Feliz foi ficar,
E está na hora da história terminar.


Autores: Matilde Reis e Laura Gato. 5.ºA